A Carta de Julian Lennon Sobre os 20 Anos da Morte de John


Muitas pessoas têm me telefonado e mandado e-mails com perguntas sobre os Beatles, sobre papai e sobre quais são meus pensamentos no aniversário de 20 anos de sua morte. Eu decidi que quando os sinos badalares e os fogos forem queimados no fim do ano, em 2001, eu vou finalmente parar de falar sobre papai e sobre os Beatles para qualquer um exceto por dizer que eles foram uma grande influência em minha vida, musicalmente! Tudo já foi dito e eu não tenho mais nada o que oferecer. Eu sinto que, no passado, várias pessoas me consideraram um livro de conhecimentos sobre esta questão, o que eu realmente não sou! Eu nasci John Charles Julian Lennon, no dia 8 de abril de 1963 e vivi com meu pai biológico, John Lennon, por apenas alguns anos. Depois disso, eu só o vi um punhado de vezes antes que ele fosse assassinado. Tristemente, eu nunca conheci o homem realmente. Eu considero o trabalho que ele produziu incrível, assim como o que ele alcançou com seus três amigos, Paul, George e Ringo. Porém, seu trabalho não me deu uma visão clara do que sua vida realmente era ou sobre como ele se sentia a respeito.
A vida é difícil o bastante. Tentar achar a própria identidade a torna ainda mais difícil, especialmente quando não é permitido que você seja você. Como você poderia definir sua própria personalidade quando todas as pessoas exigem de você respostas sobre a vida de outra pessoa. Uma vida para qual você não tem respostas! Eu não sou John Lennon e nunca serei! Eu nunca vivi sua vida e nunca viverei! Ainda assim, muitas pessoas acham que eu tenho todas as respostas! Bem... Eu não tenho! Eu sinto muito por todas as almas perdidas que têm que procurar pela verdade fora de si próprias. Tudo vem de dentro, é só uma questão de entrar em contato com isso. Você se informa com o que vem de fora, mas você entende por dentro.
Passei por uma série de relações de amor e ódio com papai, se ele estava aqui ou não. Eu acho que é bem parecido com qualquer outro relacionamento, exceto pelo fato do nosso ser público e exposto para que todos vissem se eu gostava ou não. Houve muita raiva em minha vida durante a minha adolescência porque eu não entendia o que estava acontecendo ou pela a que as coisas eram do jeito que eram. Eu tinha bastante ódio de papai por causa de sua negligência e sua atitude de paz e amor. Essa paz e esse amor nunca chegaram até mim. Imagino o que teria sido se ele estivesse vivo hoje. Acho que iria depender de ele ser 'John Lennon' (papai) ou 'John Ono Lennon' (alma perdida e manipulada).
Assim que eu comecei a prestar atenção em sua vida e realmente entendê-lo, comecei a me sentir tão triste por ele. Porque ele outrora havia sido uma luz-guia, uma estrela que brilhava para todos nós, até ser sugado para dentro de um buraco negro e toda a sua força, consumida. Embora ele fosse definitivamente receoso quanto à paternidade, a combinação disso com de sua vida com Yoko Ono conduziu nosso relacionamento ao rompimento. Nós não nos vimos por longos períodos e, como diz o provérbio, fora da vista, fora da memória. Porém os Beatles não desempenharam papel algum ou o que quer que seja em nossa separação.
De qualquer maneira eu só gostaria de dizer que, onde quer que ele esteja, espero que ele perceba os erros que cometeu assim como eu percebi e espere nunca repeti-los. Eu tenho um irmão e amo Sean demais e espero que ele seja capaz de lidar com seu destino. Uma coisa é certa: ele tem um irmão mais velho que vai protegê-lo e amá-lo até o fim, aconteça o que acontecer.
Mantenha o queixo erguido, garoto!
Espero que você faça a coisa certa sobre papai. Tomara que o karma prevaleça.
E papai, onde quer que esteja que sua luz brilhe tanto quanto a nossa!


Julian Lennon
“4 de dezembro, 2000”

Tradução:

Sergio Machado

Um comentário:

Simplismente Ju disse...

Emocionante! Tao claro e maduro. Fico imaginando como foi pra ele, ter um pai conhecido no mundo todo, idolo e referencia pra milhares de pessoas.. Mas ausente pra ele!! Que triste isso!!